terça-feira, 5 de maio de 2009

MINHA CARA...NO FUNDO O BUCOLISMO IMPERA




O Poema Lembrança de morrer, do maravilhoso Álvares de Azevedo, é o melhor retrato dos sentimentos que envolvem minha vida.


Quando em meu peito rebentar-se a fibra
Que o espírito enlaça a dor vivente
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poento caminheiro
- Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minha alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade - é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe! pobre coitada
Que por minha tristeza te definhas!

De meu pai... de meus únicos amigos
Poucos - bem poucos - e que não zombavam
Quando em noites de febre endoidecido
Minhas pálidas crenças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu a mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se viveu foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:


DR. VENENO


- Foi poeta - sonhou - e amou na vida.

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